PRESENÇA ESTRATÉGICA: O NAVIO FRANÇÊS “TONNERRE” REFORÇA A INFLUÊNCIA DE PARIS NO GOLFO DA GUINÉ

São Tomé e Príncipe, 10 de Novembro de 2025 — A presença do navio de assalto anfíbio PHA Tonnerre, um dos mais poderosos meios navais da Marinha Nacional da França, em São Tomé e Príncipe, durante três dias, não foi apenas uma escala técnica. O evento simboliza o reforço do compromisso francês com a segurança marítima e a estabilidade estratégica do Golfo da Guiné, uma das regiões mais sensíveis e economicamente vitais do continente africano. Desde Setembro, o Tonnerre participa na missão “Corymbe”, uma operação regular de patrulhamento e cooperação naval que a França mantém desde 1990 ao longo da costa atlântica africana. O objetivo é claro: proteger as rotas comerciais internacionais, garantir a segurança das embarcações civis e formar forças navais locais para fazer frente às crescentes ameaças de pirataria, tráfico e pesca ilegal. Durante a atual missão, dois oficiais da Guarda Costeira santomense receberam formação intensiva a bordo do Tonnerre, num curso de mais de 40 dias que reforça o envolvimento de São Tomé e Príncipe nas iniciativas regionais de vigilância marítima. “O grupo anfíbio Tonnerre garante presença numa zona onde vivem 70 mil emigrantes franceses e participa na proteção e segurança das rotas marítimas”, explicou o capitão de fragata Arnaud Bolelli, comandante do navio, durante a escala no arquipélago. O Tonnerre — uma verdadeira base militar flutuante — transporta 650 militares, helicópteros e viaturas de assalto, contando ainda com o apoio da Legião Estrangeira francesa. O navio atracou nas proximidades da vila de Micoló, evitando a baía da capital, São Tomé, numa escala discreta, mas politicamente significativa. Segundo a embaixada francesa em São Tomé e Príncipe, a presença do Tonnerre insere-se num esforço contínuo de “capacitação das forças navais dos países do Golfo da Guiné para combater a pirataria marítima, o tráfico de drogas e de pessoas, e a pesca ilegal”. França projeta poder e cooperação A missão Corymbe é também uma forma de Paris reafirmar a sua presença militar e diplomática num espaço marítimo cada vez mais disputado. O Golfo da Guiné, responsável por grande parte do transporte de petróleo e mercadorias da África Ocidental, tem despertado interesse crescente de potências como a China, a Rússia e os Estados Unidos. Nesse contexto, a França, antiga potência colonial e tradicional parceira militar da região, procura manter um papel central. De acordo com a publicação Téla Nón, o capitão Bolelli adiantou que o Tonnerre liderará em Novembro o exercício “Grand African Nemo”, uma operação multinacional de larga escala que reunirá marinhas africanas e europeias. “Será um dos momentos mais altos da missão”, afirmou o comandante, sublinhando a importância da cooperação internacional na defesa marítima africana. São Tomé e Príncipe: um ponto estratégico Pequeno em território, mas situado no coração do Golfo da Guiné, São Tomé e Príncipe tem vindo a consolidar-se como ponto estratégico para a segurança marítima regional. A sua localização, próxima das principais rotas comerciais e de áreas ricas em recursos energéticos, faz do arquipélago um parceiro-chave nas políticas de defesa e vigilância oceânica conduzidas pela União Europeia e pela França. A passagem do Tonnerre por águas santomenses reforça, assim, uma aliança que combina formação militar, diplomacia e projeção de poder naval, num momento em que o equilíbrio estratégico do Atlântico africano se redefine.